domingo, 28 de janeiro de 2024

Dilacerar


 Com muito carinho eu vou tirar pedaço por pedaço do que eu tenho no meu peito, mesmo que meus olhos estejam molhados e salgados com as minhas lagrimas de dor, eu vou cortar, arrancar, rasgar e despedaçar pedaço por pedaço até que vire somente uma poça de sangue no chão.
Todo o cuidado para costurar de volta algo no lugar, vou nina-lo e corteja-lo aqui dentro de mim, no meu amago vazio, frio e solitário que eu já deveria aceitar a muito tempo.
Não fui feito para ser alguém em quem se deita no colo, aquela pessoa que você vai no pé de ouvido e canta todas as juras de amor que todo coração puro de verdade se tem pelo mundo, não como o meu que ao tudo que toca apodrece.
Sou incompatível com o  amor e por isso vou deixar bem claro para dias futuros uma marca dentro do meu peito, um aviso para não abrir novamente espaço para algo que somente traz profunda decepção, afinal de tudo sempre sou eu quem sofro sozinho no escuro com a solidão.
Impecável vai ser essa chacina que vou fazer me meu peito, uma obra de arte grotesca de musculo desfeito no chão, lagrimas salgando minha boca por arrependimento, por mais uma vez acreditar em algo puro e ingênuo.
Vou aceitar o meu destino e com o gosto torpe em minha boca e com meus dedos trêmulos seguro e limpo minhas lagrimas do rosto, não quero mais sofrer, não vou mais chorar e muito menos vou me importar de novo.  

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